Hoje vamos conversar sobre esse Inglês todo usado no linguajar profissional da informática no Brasil.
O que será que descobrimos quando comparamos o Inglês adaptado para o linguajar das profissões digitais no Brasil com o Inglês original?
Vamos combinar que para efeitos desta conversa a gente vai usar a palavra “informática” só para simplificar as coisas. Mas na verdade, essa conversa vale igualmente para qualquer uma das disciplinas ou áreas de trabalho fortemente ligadas ao mundo digital.
Imagine Essa Cena Comigo
Antes de mais nada, vamos imaginar o seguinte: você está sentado no ônibus, e ouve uma conversa alta e animada entre dois passageiros em pé ao seu lado.
- “Não. Não é isso, cara! É que o asset pipeline te dá um framework pra concatenar e minificar os assets.”
- “Ah, entendi. Aí o browser tem que fazer menos requests pra poder renderizar meu page.”
- “É isso!”
Então, o que você acha que os passageiros ouviram?
É claro, a maioria nem prestou atenção. Mas talvez alguns tenham até notado, e entenderam que um está explicando como tal coisa funciona. Outros, ouvindo “browser” e “page”, já se ligaram que tem algo a ver com a Internet. Já, você percebeu logo que eles são da informática, e que devem estar falando de “Rails”, ou algo parecido.
Pois é, toda profissão tem um linguajar próprio, né. Um linguajar profissional, ou jargão, é o vocabulário e jeito que os profissionais de uma área usam entre si para se comunicarem com eficiência e precisão.
Conhecer o linguajar é essencial para quem trabalha na informática, pois ele visa facilitar a comunicação entre os profissionais que falam Português. Porém, aqui nós vamos focar nesses termos vindos do Inglês, os estrangeirismos como “browser” ou “page”, e como eles são adaptados para se encaixarem no Português.
O meu propósito é lhe ajudar a entender que o Inglês adaptado e integrado ao linguajar da informática no Brasil, e o Inglês propriamente dito, são duas coisas diferentes que estão intimamente relacionadas. As duas são importantes. As duas são necessárias. E cada uma cumpre sua função em seu próprio contexto.
Entender a relação entre o uso do Inglês importado e adaptado ao linguajar da informática no Brasil, e o Inglês usado nos Estados Unidos, pode lhe valorizar ainda mais como profissional.
Dominar o Linguajar Profissional Sugere Experiência
Seja qual for a área, dominar o linguajar profissional é uma das formas mais óbvias de indicar a outros que você é desse ramo de atividades e que você tem experiência.
Pode ser o “medicinês” que os médicos usam entre si, ou o jargão jurídico usado pelos advogados, ou o jargão corporativo usado por empresários, ou até a linguagem usada nos quartéis pelos militares. Cada área tem seu linguajar próprio.
Clique aqui para ver algumas gírias do linguajar corporativo.
Uma linguagem profissional geralmente tem um vocabulário preciso e expressões obscuras. Pode incluir gírias, estrangeirismos, palavras inventadas, gestos, e até expressões engraçadas e curiosas.
E quase sempre, esse jeito estranho de falar não faz muito sentido para quem é de fora da área. Ao mesmo tempo, para quem é da área, é uma maneira bem eficiente de se comunicar sobre assuntos técnicos.
Da mesma forma, nas atividades digitais encontramos um linguajar eficiente e eficaz. Esse linguajar profissional em Português inclui um rico vocabulário próprio, com efeito de ajudar os profissionais a conversarem entre si sobre um vasto conjunto de assuntos com eficiência e precisão.
E no meio do Português todo, esse linguajar está repleto de palavras vindas do Inglês.
Esse Inglês no Linguajar da Informática é igual ao Inglês lá de fora?
Estrangeirismos do Inglês, chamados “anglicismos”, e palavras novas no idioma com origem no Inglês (neologismos por empréstimo) são uma realidade em muitos ramos de trabalho, e em muitos países. Isso não é novidade nenhuma, né.
Sendo assim, já abordei em outros posts o porquê de tanto Inglês no Brasil e no mundo hoje em dia, e especialmente essa explosão de Inglês que veio com o aparecimento da Internet.
Portanto, vamos logo à nossa questão principal, que é essa: o que descobrimos quando comparamos o Inglês adaptado para o linguajar das profissões digitais no Brasil com o Inglês dos Estados Unidos?
E a resposta bem simplificada (e que não deve nos surpreender) é que muitas vezes o Inglês do linguajar da informática no Brasil é bastante diferente do Inglês dos EUA. Note que aqui estou focando no Inglês dos EUA, mas creio que a análise e comparação com o Inglês de outro país deem resultado semelhante.
Podemos dizer que o Inglês aportuguesado da informática no Brasil e o Inglês propriamente dito estão intimamente relacionados, mas podem ser bem diferentes.
Ademais, saber reconhecer e entender essas diferenças é mais uma habilidade que valoriza o profissional que trabalha ou vai trabalhar no mundo digital no Brasil.
Logo veremos exemplos das diferenças.
Diferente não significa Errado
Mas antes, preciso frisar uma coisa muito importante.
Quando eu indico abaixo as diferenças, de modo algum estou sugerindo que esse linguajar no Brasil esteja errado. Não é o caso.
Pelo contrário. O aportuguesamento de palavras vindas do Inglês é um fato da vida. Afinal, adotar palavras do exterior, os estrangeirismos, adaptá-las a um modo mais familiar, e por fim instalá-las no idioma (os neologismos), acontece no mundo todo. Fazer isso torna o uso dessas palavras mais eficiente e compreensível dentro de seu novo contexto.
De fato, uma enorme porcentagem das palavras que formam o próprio Inglês vem emprestadas e adaptadas ao longo dos séculos do Latim, Grego, Francês, Alemão, e muitos outros idiomas.
Então, o Inglês usado no linguajar das atividades digitais no Brasil não está errado. Está adaptado. Ou seja, isso é simplesmente uma evolução orgânica que nos permite encaixar bem essas novas palavras dentro do Português.
Por outro lado, vale a pena reconhecermos que, sim, a adaptação pode acabar ficando bastante diferente do Inglês original.
Mas, Como o Inglês no Linguajar da Informática é Diferente?
Então, em que sentido o Inglês no linguajar profissional digital no Brasil é diferente do Inglês dos Estados Unidos?
Eu vou lhe mostrar com exemplos alguns tipos de diferenças que encontramos entre esses dois. Aqui vamos focar nas diferenças nas seguintes áreas.
- Pronúncia
- Verbos
- Siglas
Ficará para outro dia falarmos de diferenças na grafia e no próprio sentido das palavras.
Primeiramente, vamos recordar que as adaptações e o assimilamento das palavras emprestadas geralmente acontecem organicamente com seu uso. É um processo que leva tempo, e nem todo mundo adapta as palavras da mesma forma. Às vezes é um caso de sobrevivência do mais apto, com diferentes adaptações competindo, e umas eventualmente superando outras em popularidade e uso. Depois de muito tempo, se a palavra sobreviver, uma versão das adaptações provalmente será adotada e formalizada em dicionários.
Então, mesmo ao dar os exemplos abaixo, estou ciente que em muitos casos existem diferentes pronúncias e adaptações que contradizem ou enfraquecem meus próprios exemplos. Tudo bem. Essa bagunça faz parte da complicada e desorganizada migração de palavras de um idioma para outro.
1. Diferenças na Pronúncia
Vamos começar com a pronúncia.
Você sabia que o Inglês integrado no linguajar das profissões digitais no Brasil geralmente não soa muito como Inglês?
Soa mais como Português.
Isso não deve nos surpreender. Afinal, como já vimos no post sobre estrangeirismos e neologismos, quando trazemos para o Português palavras emprestadas de outro idioma, nós as aportuguesamos.
E nós fazemos isso justamente para que se encaixem no som, no ritmo, no jeito da conversa em Português. Quer dizer, faz sentido que seu som, sua pronúncia, fique diferente do original, pois esse é um propósito fundamental da adaptação.
Portanto, geralmente quando dois profissionais brasileiros da informática conversam entre si em Português, e no meio dessa conversa usam palavras emprestadas do Inglês, essas palavras já foram adaptadas do Inglês ao Português.
Tanto é, que quem fala Inglês nativamente (e que não está acostumado ao Português), provavelmente nem reconheceria a maioria das palavras em Inglês que os profissionais brasileiros estão usando… porque não soam muito como Inglês.
Voltando ao Ônibus
Para ilustrar isso, vamos voltar por um instante à nossa cena inicial da conversa entre dois passageiros no ônibus.
Vamos supor que no banco ao seu lado está sentada uma outra profissional da área. Só que essa é uma visitante norte-americana que não entende nada de Português. Mas digamos que ela entende muito de programação para a Internet, e especificamente de Ruby on Rails. Mesmo se ela estiver tentando prestar atenção à conversa em Português (por mera curiosidade), ela dificilmente perceberá que eles estão falando de programação para a Internet, e de um assunto que ela domina.
Pois é. Na sua curta conversa, os dois passageiros usaram 6 palavras vindas do Inglês de uma área que a visitante americana domina (asset, pipeline, framework, browser, requests, page), além de alguns verbos vindos do Inglês, mas já adaptados ao Português (minificar, renderizar). Mesmo assim, ela provavelmente não vai reconhecer o assunto da conversa.
E esse é o caso, não porque eles estejam cometendo algum erro no Inglês. De jeito nenhum. Ela terá dificuldade em reconhecer as palavras familiares, porque elas já estão aportuguesadas. De fato, elas já soam mais como Português do que como Inglês. Quer dizer, as adaptações estão cumprindo bem seu papel de ajudar as palavras a se encaixarem no seu novo contexto.
Uma Ressalva bem Importante
Mas aqui quero fazer uma ressalva muito importante.
Sem dúvida, muitos profissionais de informática, de TI, e de computação no Brasil, além de usarem o linguajar profissional em Português entre si diariamente, também falam Inglês perfeitamente. Então, esses profissionais conhecem as diferentes pronúncias, e mesmo no contexto do linguajar no Brasil, podem optar por uma pronúncia menos aportuguesada e mais próxima ao Inglês original. E, se eles estivessem conversando em Inglês diretamente com nossa visitante americana, certamente usariam uma pronúncia livre dessas adaptações, e seriam prontamente entendidos.
Portanto, quando estiver em dúvida se está falando o Inglês do linguajar brasileiro, ou o Inglês propriamente dito, faça a simples pergunta, “um profissional estrangeiro que só fala Inglês me entenderia?” Você talvez nem consiga sempre responder, mas a própria pergunta pode lhe levar a perceber, pesquisar e aprender mais sobre as diferenças.
Vamos ver Algumas Diferenças na Pronúncia
Seguindo em frente com diferenças na pronúncia, então, vamos examinar a lista abaixo, na qual temos algumas palavras do Inglês usadas no linguajar da informática e outras profissões digitais no Brasil.
A primeira coluna mostra a palavra em Inglês. A segunda simula a pronúncia original do Inglês (mas usando sons escritos em Português). E a terceira representa uma das pronúncias comuns no linguajar no Brasil. É claro, nem todos no Brasil pronunciam da mesma forma, então estas que destaco são apenas as que eu ouço mais frequentemente.
Como Ler as Pronúncias na Tabela
Note que a representação abaixo da pronúncia em Inglês é só uma aproximação, pois certos sons em Inglês não são facilmente representados em Português. Nas duas colunas de pronúncias, a ideia é ler as sílabas como se fossem Português. E aqui dou as seguintes dicas sobre as representações da pronúncia.
- Consoantes finais em subscrito – por exemplo, “dif“. Eu uso o subscrito para indicar que essas consoantes no final de muitas palavras devem ser de fato pronunciadas, porém, de forma específica. Essas consoantes terminam as palavras em Inglês com um som muito sutil. É um som que quase desaparece e não tem adição de qualquer som vocálico. Elas finalizam a sílaba anterior, e não formam nova sílaba. Neste caso, “dif” termina com um “f” que quase desaparece, e não com a sílaba “fi”.
- dj – Eu uso o “dj” para representar o som daquele “d” carioca. Por exemplo, eu representaria o “bom dia” carioca como “bom djia”.
- tch – Uso o “tch” para representar aquele som que conhecemos da palavra “tchau”.
- uuu / iii – Eu uso essa repetição de vogais para indicar que em Inglês esse som vocálico é bastante prolongado. Não é o som curto do “ú” ou “í” no Português.
- rrr – Eu uso essa repetição de 3 erres para representar aquele erre Americano ou caipira.
Para ver todas as representações de sons usados neste site, e ouvir áudio de cada, veja o meu Guia de Pronúncias de Inglês.
Tabela de Pronúncias
Palavra em Inglês | Pronúncia nos EUA | Algumas Pronúncias no Brasil |
---|---|---|
acid | é-cīd | ei-ci-dji / á-ci-dji |
asset | é-cêt | á-cet / á-ce-tchi |
backend | bék-ênd | bé-qui-êin-dji |
bluetooth | bluuu-tuuuth | blu-tú-fi / blu-tú-thi |
browser | bréu-zrrr | brau-zer |
chip | tchīp | chí-pi |
diff | dīf | djí-fi |
frontend | frant-ênd | fron-tchi-êin-dji |
hacker | ré-krrr | rá-quer |
home | roum | rou-mi |
layout | lei-éut | lei-au-tchi |
mouse | méuss | mau-zi |
output | éut-put | au-tchi-pú-tchi |
outlook | éut-luk | au-tchi-lú-qui |
plugin | plă-guīn | plu-guín |
roadmap | roud-mép | rou-dji-mé-pi |
sandbox | send-báks | sen-dji-bók-si |
slack | sslék | iz-lé-qui |
sleep | ssliiip | iz-lí-pi |
smart | ssmarrrt | iz-mar-tchi |
space | sspeiss | iz-pei-ssi |
template | tem-plăt | tem-plei-tchi |
upgrade | ap-greid | a-pi-grei-dji |
web | uêb | ué-bi |
Certamente poderíamos dar dezenas ou centenas de exemplos, com cada palavra modificada para se encaixar no Português. Vamos recordar que o que estamos afirmando não é que uma pronúncia seja melhor que a outra, ou mais correta que a outra. Simplesmente destacamos que frequentemente elas são bem diferentes, porque servem propósitos diferentes em contextos diferentes.
Explore também termos da informática em Inglês e Português nos Glossários com Áudio.
Você Notou alguns Padrões no Aportuguesamento?
Então, deu para perceber os seguintes padrões no aportuguesamento?
- Em primeiro lugar, a maioria das palavras, depois de adaptadas ao Português, termina com o som “i”. Isso acontece porque muitas palavras em Inglês terminam com um som consonantal que raramente aparece sozinho no final de palavras em Português. Essas são as consoantes p, t, k, f, b, d, g, v, além dos encontros consonantais th e ph. São essas em sobrescrito na tabela. Por exemplo, a palavra “web” termina com um “b”, que é meio desajeitado em Português. Portanto, para driblar essa terminação consonantal, no Português elas geralmente adquirem o som vocálico “i” no finalzinho.
- Em segundo lugar, quase todas as adaptações acima resultam em pronúncias paroxítonas. Isto não é o caso com todas as adaptações de estrangeirismos do Inglês, mas é certamente a tendência. Essa mudança de tonicidade das palavras é principalmente por causa da adição do novo “i” no final, que transforma o que era uma consoante final em nova sílaba.
- Em terceiro lugar, muitas das palavras que começam com “s” em frente de outra consoante (como “sl”, “sm”, “sp”), acabam tendo o som inicial trocado por “iz”. Ou seja, em Inglês o som inicial é simplesmente “ss”, sem vogal nenhuma. No aportuguesamento, o som inicial vira “i”, e o som do “s” vira “z”. Só para exemplificar, em Inglês as palavras “slack”, “sleep”, “smart”, e “space” são pronunciadas em uma sílaba só, e em Português levam até 3 sílabas, dependendo do falante.
Existem outros padrões, mas estes bastam para podermos afirmar o óbvio. Essas adaptações: a pronúncia forte das consoante finais com a adição do som “i”, a mudança de tonicidade, a troca do “s” inicial por “iz” em certos casos, e outras adaptações que não mencionamos, transformam a pronúncia das palavras de modo significativo.
Mesmo assim, existe Bastante Variação na Pronúncia no Brasil
Além disso, cabe ressaltar que o aportuguesamento da pronúncia também varia um pouco de pessoa para pessoa e de lugar para lugar. Adaptar o som para a pronúncia carioca não é exatamente a mesma coisa que adaptá-lo para a pronúncia de São Paulo, ou Goiás, por exemplo.
Do mesmo modo, como já afirmamos, os profissionais brasileiros que também falam Inglês propriamente dito, ou que têm mais contato direto com estrangeiros no trabalho, podem trazer essa influência à sua pronúncia, mesmo dentro do contexto brasileiro.
2. Diferença na Maneira de usar os Verbos
Uma outra diferença entre o Inglês adaptado ao linguajar da informática no Brasil e o Inglês original é o uso dos verbos.
Essa diferença é, de fato, uma consequência inevitável das maneiras distintas de formar e conjugar os verbos no Português e no Inglês.
Só para recordar: em Português os verbos em sua forma original (no infinitivo) terminam em -ar, -er, -ir. Por outro lado, em Inglês, os verbos no infinitivo têm a forma “to +verbo”, sem existir padrão na terminação do infinitivo.
Portanto, quando pegamos emprestado um verbo do Inglês, uma adaptação óbvia é botar um “-ar” no final e ver se vinga no Português.
Por exemplo, aqui temos alguns verbos em Inglês, com suas adaptações no linguajar da TI no Brasil.
- to click – clicar
- to debug – debugar
- to delete – deletar
- to grep – grepar
- to hack – hackear
- to link – linkar
- to print – printar
- to render – renderizar
- to reset – resetar
- to start – startar
E a partir dessa criação de um novo verbo, a conjugação procede à moda brasileira. Portanto, são de fato palavras híbridas, pois a raiz do verbo vem do Inglês, mas o verbo em si e suas conjugações seguem os padrões do Português… eu deleto, tu deletas, etc.
No caso desses verbos, não só a pronúncia do infinitivo fica modificada, mas a pronúncia de todas as suas conjugações. Podemos até imaginar que estamos falando Inglês ao usarmos esses verbos, pois essa é de fato a sua origem. Mas ao criarmos esses verbos à brasileira, elas deixam de ser Inglês.
Verbos que viram Objetos
Em contraste com os verbos acima, no caso de alguns verbos do Inglês, a adaptação é outra. Às vezes o que acaba vingando é uma expressão da forma “fazer x”. Então o que começa como um verbo em Inglês passa a ser objeto do verbo “fazer”. Por exemplo,
- to reboot – fazer reboot
- to download – fazer download
- to log in – fazer login
- to upload – fazer upload
Ao mesmo tempo, sabemos que também existem verbos já em Português que são usados ao invés desses estrangeirismos, como “baixar” para fazer download, e “entrar” ou “acessar” para fazer login.
Seja qual for a adaptação, os verbos que visitam do Inglês e acabam ficando, por fim, de uma forma ou outra, trocam seus trajes estrangeiros por trajes nacionais.
3. Diferenças na Pronúncia das Siglas
Por fim, a última categoria de diferenças que vamos abordar é a maneira de lidar com as siglas.
Na maioria dos casos, no linguajar profissional no Brasil pronunciamos as siglas vindas do Inglês usando os nomes das letras em Português. Esse é o caso, por exemplo, com CSS, HTML, PHP, URL, XML, e muitas outras siglas. Simplesmente as soletramos em Português.
Essa prática faz muito sentido. Manter as siglas em Inglês é o mais prático, especialmente quando aparecem assim não só na literatura profissional, mas diretamente em código fonte. Mas pronunciar a sigla em Português também é o mais prático. Afinal, esse linguajar é usado entre pessoas que falam Português.
Então essa é mais uma área na qual o linguajar no Brasil e o Inglês são diferentes na fala, mas iguais na escrita. Isso é, as siglas em si não mudam – continuam com as mesmas letras, que representam palavras em Inglês. Porém, seu som é completamente diferente, pois no Brasil as soletramos em Português.
Parece pouca coisa, mas a verdade é que geralmente o som dos nomes das letras é bem diferente. Por conseguinte, para quem só fala Inglês, o som da sigla em Português seria geralmente irreconhecível.
Siglas – Alguns Casos Especiais
Ao mesmo tempo, existem também casos especiais, onde em Inglês a sigla não é simplesmente soletrada letra após letra.
Por exemplo, a sigla “CD-ROM”. Em Inglês o que vingou foi soletrar o nome das letras “C” e “D”, e aí ler a sigla “ROM” como se fosse uma palavra. A representação da pronúncia do Inglês usando sons em Português, ficaria mais ou menos assim: “ciii-diii-rám”. A abordagem no Brasil é a mesma, mas o resultado é diferente. Soletrando e pronunciando em Português, o que falamos no Brasil é “cê-dê-rrôm”.
Outro exemplo simples: a famosa memória de curto prazo, a memória RAM. Tanto no Inglês quanto em Português, ela é lida como uma palavra, e não soletrada. Só que a pronúncia em Inglês seria mais ou menos “RRRÉM“, e a pronúncia no Brasil mais ou menos “RÔ.
Poderíamos continuar com “href” – pronunciado “eitch-rrrêf” em Inglês, e “agá-ré-fi” no Brasil.
Ou até SQL, que pode ser soletrada, mas que ainda é frequentemente pronunciada “sequel” em Inglês (mais ou menos “siii-qual” em Português). Mesmo quando simplesmente soletrada nas duas línguas, os resultados ficam bem diferentes.
Quer dizer, mesmo no caso das siglas, as adaptações cumprem seu objetivo e geram sons que encaixam bem nas conversas em Português, porque não soam mais como Inglês.
O que aprendemos sobre o Inglês no Linguajar da Informática?
O linguajar dessas profissões digitais no Brasil é naturalmente voltado à comunicação entre profissionais que falam Português. Só que embutido nesse linguajar da informática encontramos uma infinidade de palavras vindas do Inglês.
O linguajar no Brasil lida com esses estrangeirismos muito bem, obrigado. Numa evolução orgânica, quando necessário fazemos alguns ajustes nas palavras estrangeiras para que elas se encaixem bem no Português. Esse processo pode ser um pouco bagunçado, mas funciona.
Por outro lado, vale a pena reconhecermos que, sim, a adaptação cria algo diferente do Inglês original. Isso é natural.
Portanto, o que temos no final das contas são duas coisas diferentes que estão intimamente relacionadas – o Inglês adaptado e integrado ao linguajar da informática no Brasil, e o Inglês propriamente dito. As duas são importantes. As duas são necessárias. E cada uma cumpre sua função em seu próprio contexto.
Afinal, o engano, se é que existe algum engano, é o profissional pensar que essas duas coisas são uma só. Pois, com esse pensamento está apto a confundir as coisas, e não se comunicar da forma mais clara e eficaz.
Por fim, o importante é o profissional saber se expressar e compreender, seja no linguajar em Português no contexto brasileiro, ou em Inglês com profissionais que não falam Português.